O Inventor de Sonhos | Website Oficial

Não é um filme histórico... É a história de pessoas que vivenciaram esta época.



Rio Antigo

A BASE PARA A PESQUISA


Para se realizar o trabalho de direção de arte do INVENTOR DE DE SONHOS, foi preciso mergulhar nas imagens do século XIX para uma apurada reconstituição da época... No começo do século XIX não havia a fotografia. Os encarregados de registrar a geografia física e humana, eram OS PINTORES. Nesta página poderemos observar alguma das pinturas que serviram de base para a reconstituição realizada, tanto para a cenografia, figurino, como para a computação gráfica.


A PINTURA DO SÉCULO XIX


Ao chegar ao Brasil em 1808, D. João e sua Corte mudariam para sempre o perfil e a vida de sua principal colônia.  Porém, era necessário promover muitas mudanças em todos os setores para dar uma feição de reino ao Brasil.            

Com relação à Arte o desafio também não era pequeno. Até então não havia um ensino formalizado de Arte no Brasil. Tudo se resumia a trabalhos de escravos, mestiços e pessoas humildes, cujos conhecimentos eram passados de um para outro com o apoio da Igreja. A produção artística girava em torno de construção de conventos e igrejas decoradas com talhas e pinturas de forros, além de algumas fortificações militares.
           

Com a chegada da Família Real, o Brasil passou a receber forte influência da cultura européia e essa tendência se intensificou ainda mais com a vinda da Missão Artística Francesa em 1816. Os artistas que compunham esta Missão vieram com o objetivo de fundar a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, o que aconteceu em 1826, sob outra denominação, Academia Imperial de Belas Artes. Faziam parte dessa missão os pintores Nicolas Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret, o arquiteto Grandjean de Montigny, o escultor Auguste Taunay e outros, chefiados por Joachin Lebreton.
           

Assim se inaugurou o ensino formal de Arte no país, estruturado dentro do sistema acadêmico e apoiado no Neoclassicismo, que compreendia a Arte como representação do belo ideal com temas que valorizavam principalmente a pintura histórica e a técnica da pintura a óleo.
             

Dentre os pintores, vale ressaltar a importância de Debret. Entre 1816 e 1831, período que permaneceu no Brasil, realizou uma obra que transita entre o histórico e o pitoresco. De formação neoclássica, Debret, que foi aluno de Jacques Louis David, pintor oficial de Napoleão, construiu uma espécie de caixa do tempo, registrando em suas aquarelas e óleos a metamorfose pela qual passava a cidade do Rio de Janeiro.
           

Com uma visão crítica e realista, rica de informações, o artista pintou os negros, os brancos e os mestiços, tendo como plano de fundo a arquitetura carioca, o que faz suas aquarelas irem além de um registro documental, passam na verdade a ser uma crônica visual da vida dos brasileiros na época.
           

Pintou também a fauna e a flora, destacando a exuberância de nossas matas, as variedades de frutas, flores e animais, mas o que mais o fascinava eram as pequenas crônicas do dia a dia num cenário iluminado pelo sol tropical.            

Foi com essa sensibilidade que o pintor percebeu o efeito que os estrangeiros tinham sobre as tradições brasileiras, através das mudanças de hábitos, comportamentos, nos trajes, na arquitetura da cidade, na política, e o que era definitivamente brasileiro, peculiar, único e pitoresco, aquilo que tantos estrangeiros vinham aqui conhecer.
Ao retornar para a França, Debret levou consigo as aquarelas que iriam  servir de base para as gravuras que acabaram compondo seu livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, publicado entre 1834-39, uma obra que registra sensivelmente as cores, sons, sabores e cheiros de um Brasil vivo e em transformação.  


A ENTRADA DA BAIA do RIO DE JANEIRO

A entrada da baia do rio de Janeiro era uma experiência única para o viajante europeu que por aqui chegava. A fauna e a flora eram completamente diferentes do universo que estavam acostumados, com toques tropicais bastante únicos. O verde era intenso, as montanhas majestosas, regadas por tempestades tropicais constantes, tambem bastantes peculiares para os forasteiros. Os sons dos pássaros  tambem eram muito originais. Com tantos dados desconhecidos, a baia foi um dos primeiros grandes temas dos pintores que por aqui aportavam. Havia um interesse por parte da corte em retratar o Brasil, e divulga-lo na Europa, para se engrandecer a imagem de Portugal, fragilizada com a fuga da familia real . Foram várias as missões e artistas convidados com esse objetivo. A mais famosa foi a Missão francesa que por aqui aportou em 1816, logo após a queda de Napoleão, ironicamente composta por vários artistas desempregados com a sua queda.
 

A CIDADE

A cidade do Rio de Janeiro no começo do século XIX era o contrário do que a corte esperava. Se a natureza era exuberante, a cidade era suja, sem saneamento básico. Os dejetos eram lançados na rua ou carregados pelos negros em toneis apoiados sobre suas costas, cujo vazamento ácido marcavam sua pele... eram os negros tigrados. Dois terços da população era composta de negros. Apesar de toda a beleza da orla, as casas eram todas construídas em direção ao continente... o mar era considerado destino final dos dejetos.
Com a chegada da corte a cidade experimentou um progresso sem igual com obras grandiosas por toda a parte. Foram construidos a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico entre outras interferências. O Palácio de São Cristovão, presente de um rico fazendeiro e reformado para a residência de D. João emprestou um prestígio singular à região. O impacto na arquitetura foi enorme. A cidade começava uma era de enormes transformações.
 

OS ARREDORES

Os arredores da cidade eram compostos basicamente por grandes fazendas pertencentes à latifundiários escravocratas. A condição do escravo negro nas fazendas agrícolas eram bem piores do que as do negro da cidade, alguns inclusive alforriados.
Com a chegada da Familia Real  e a crescente influência inglesa, tentou-se implantar o plantio do chá nas terras próximas à cidade. Importou-se um bom número de trabalhadores chineses de Macau, especializados nesse plantio, mas ... as terras não eram boas para essa cultura. O chá foi substituido pelo plantio do café que foi um enorme sucesso.
Em pouco tempo as colinas em volta da cidade foram desmatadas e redesenhadas com as mudas da nova cultura.
A mata atlântica foi praticamente destruida em todo entorno, sendo recomposta muitos anos mais tarde, já no Segundo iImpério, a mando de D. Pedro II, pois a agua da chuva, não tendo mais onde se estancar, causava enormes enchentes na cidade.
 

AS PESSOAS

Com a chegada dos portugueses, aumentando a população com um contingente de quase 10% do total,a geografia social e dos costumes mudaram consideravelmente. Havia uma forte mistura de influências indias (dos tupis e tupinambás), dos negros (do Congo e e de Angola), dos portugueses e dos estrangeiros brancos (já que os portos haviam sido abertos e passou-se a permitir a presença de não portugueses no país)... um melting pot singular para o século XIX.
É sobre essa base de mistura e miscigenação que se formou o desenho da sociedade brasileira para os anos que se sucederam. 
Talvez um dos documentos mais completos obre toda essa sociologia seja a coleção VIAGEM PITORESCA E HISTÓRICA AO BRASIL de Debret, um pintor francês convidado pela corte, que nas horas vagas se debruçava sobre as características das três raças, desennando e descrevendo seus pormenores.
 

O RIO DE JANEIRO COMO REALMENTE ERA

Existe até hoje uma grande distancia entre a geografia física e humana brasileira retratada nos quadros dos pintores do século XIX, e o panorama REAL do que existia na época. Como os registros eram todos feitos por pintores contratados por terceiros, é normal que eles pintassem não a realidade, mas sim o que seus senhores desejavam ver retratado. É comum vermos senzalas limpas, negros bem nutridos e cidades limpas.
Para uma visão mais acurada sobre a época, é necessário se buscar pintores viajantes, sem comprometimento local. Dentre esses, apesar de ter estado no Brasil um bom tempo após o período joanino, o pintor alemão Eduard Hildebrandt, produziu peças de alto valor histórico. Podemos observar uma cidade que misturava belos monumentos arquitetônicos à lama da rua, consequencia das tempestades tropicais. Se por um lado havia um ar desleixado causado por essa mistura, por outro, o vento impregnava as paredes com a poeira do chão, pintando tudo de dourado. Era uma atmosfera peculiar.