Não é um filme histórico... É a história de pessoas que vivenciaram esta época.
A Fotografia
A fotografia do filme O INVENTOR DE SONHOS é inspirada na pintura do século XIX... algumas cenas são reprodução exata de quadros da época, tanto nas cores como na ação descrita. A narrativa é um fio condutor para um mergulho nas cores e nas texturas do RIO DE JANEIRO de 1808. O filme rouba o olhar de DEBRET, RUGENDAS, TAUNAY e principalmente THOMAS ENDER e EDUARD HIDELBRANDT... ele se propõe a ser uma pesquisa gráfica... desenhos em movimento que contam uma história. É como folhear e ler um livro de contos, ilustrado, que revela personagens e costumes do cidadão comum da época. Praticamente todos os pintores da época tem a cor de suas telas em tom amarelado. Era assim. O chão totalmente de terra em tom marrom refletia o sol amarelado pintando as paredes e o ar de dourado. As tempestades tropicais faziam lama no chão e respingavam a terra nas paredes das casas e igrejas. Nada era inteiramente branco. As igrejas eram degradês de amarelo ao branco, a medida que olhamos para as partes altas... a poeira não subia até lá , preservando a cor original somente nas partes superiores. A poeira no ar contribuía para o tom amarelado. É uma época suja, manchada, a barra dos vestidos sempre encardida de lama, os rostos cheios de poeira. Os pintores eram os fotógrafos da época... porem é preciso se tomar muito cuidado em se aceitar as imagens pintadas como verdadeiras. Os pintores eram contratados por senhores e pela corte... assim não pintavam a realidade e sim o que seus “clientes” queriam exibir como verdade. As senzalas são limpas , os negros sadios e a corte elegante. Não era assim. A simples reposição de tecidos dependia de pelo menos dois meses de viagem de caravela entre a Europa e o Brasil... assim as roupas eram puídas e remendadas. Nessa categoria se enquadra uma boa parte da obra de DEBRET, RUGENDAS, TAUNAY... Thomas Ender e Eduard Hidelbrandt são exceções. O filme procura retratar esse ambiente trazendo a realidade da época ao expectador. É uma viagem iconográfica. Propositadamente em alguns momentos a fronteira entre fotografia e pintura fica extremamente tênue. Para tal, o filme foi inteiramente produzido em Parati, cidade do século XVII. As ruas foram cobertas de terra de cor clara para refletir corretamente o amarelado existente nas pinturas assim como as paredes das casas, pintadas com manchas amareladas como se fossem aquarelas. Abaixo podemos ver uma galeria de imagens do filme e compara-las com as pinturas da época, na seção RIO ANTIGO do portal.
A revolta da Bolsa foi em parte liderada pelo avogado e padre Macamboa. Não se sabe ao certo de onde partiu um tiro que matou um soldado, mas a resposta foi imediata. As tropas atirararam em cerca de 400 revoltosos que estavam no local.
No século XIX era comum as relações extra conjugais entre os senhores do engenho e as criadas... normalmente as esposas eram fruto de casamentos arranjados, deixando margem para que a sexualidade se manifestasse de forma escondida.
Por volta de 1820 o descontentamento era geral... a ponto de unir mercadores, latifundiários e escravocratas em discussões discretas nas praças, contra acorte e contra o governo.
D. Pedro, filho de D. João, colecionava amantes. Uma das mais conhecidas era a bailarina francesa Noemi Thiery, convidada a se retirar para o Recife, após o casamento arranjado do príncipe com a princesa austríaca D. Leolpoldina.
O período joanino foi rico em conquistas para os negros e abolicionistas. Por pressão da Inglaterra proibiu-se o tráfico negreiro e mais tarde promulgou-se a lei do ventre livre... filho de escravo era negro livre.
Contrapondo-se à moral europeia, a sexualidade das negrase mulatas brasileiras era evidente... A moral e os costumes sofreram um forte impacto pela mistura do comportamento portugues, africano e brasileiro.
A ética da época determinava que não era educado carregar malas ou objetos. Surgiu a figura dos negros de ganho, na verdade carregadores que os senhores mandavam para a cidade para alugar seus serviços. Furtos eram frequentes.
Não havia tolerância com negros fujões ou infratores. A pena mais comum era a de 100 chibatadas em praça pública, atados a um poste de madeira chamado Pelourinho. A policia local se encarregava do castigo, a pedido dos donos.
As constantes tempestades tropicais elameavam o chão de barro. Com o sol e o vento a poeira sujava as paredes, tornando toda a cidade amarelada, As paredes recuperavam a cor branca a medida que a altura tornava mais difícil o acesso da poeira.
O exército tinha um papel preponderante na política local. Os capitães e oficiais eram bajulados pela sociedade local, que buscava neles legitimação e poder.
A presença da mulher nas tabernas era muito rara... limitava-se à serviçais ou empregadas de terceiros. A decência exigia sua permanência dentro de casa com as damas de companhia a seu redor.
A proibição de açoitamentos em praça pública e a queda do pelourinho, onde os negros eram amarrados, foi uma importante conquista dos abolicionistas. No entant era mais resultado da pressão inglesa do que da sociedade local.
Os negros eram comercializadosno Mercado do Valongo. Dos embarcados na Africa, mais a metade já chegava morta, vítima das doenças de bordo ou dos mau tratos. Eram classificados pela força, dentes e saúde.
A rotina começava cedo e o dia também terminava muito cedo... função da luz do dia. A última refeição acontecia por volta das cinco da tarde.
A maioria dos nobres eram insensíveis ao maltrato de negros, considerados mais animais do que da espécie humana. O castigo de um negro se equiparava ao corretivo à de um cachorro, não sendo considerado atitude desumana.
As revoltas pelo fim da monarquia absolutista repetiam a Europa... com a queda de Napoleão em 1815, o poder político foi duramente criticado, e a exigência de se governar mediante uma constituição estava por toda parte.
Uma das consequencias do massacre da Bolsa, das sucessivas revoltas e das pressão de Lisboa pela volta de D. João para Portugal, foi sua partida para Europa, deixando no Brasil D. Pedro como príncipe regente.
O fim do período de permanência de D João VI no Brasil foi caracterizado por uma grande instabilidade política... os brasileiros queriam o fim da monarquia absolutista, que culminou com a Revolta da Bolsa, onde 400 revoltosos morreram.
Aos negros alforriados era permitido exercer atividades liberais... Misturavam-se ao comércio de rua vendendo quincalharias ou armavam tendas dentro das quais ofereciam serviços como de barbearia.
Chegados repentinamente da Europa, muitos nobres tiveram uma grande dificuldade de adaptação... o Brasil era belo, mas também sujo e com uma população composta de mais da metade de negros, o que a corte desconhecia.
A chegada da corte motivou a desapropriação dos casarões mais belos para a acomodação dos nobres. As eram marcadas com a sigla PR, Principe Regente, mas popularmente conhecida como Ponha-se na Rua.
O estímulo à atividade comercial, com a abertura dos portos, vai colocar em zona de colisão a nova classe mercantil emergente, e os latifundiários que representavam a oligarquia agrícola tradicional.
A abertura dos portos para as nações amigas era na verdade uma concessão comercial para a Inglaterra. Portugueses e ingleses se uniram para auferir máxima vantagem das novas possibilidades econômicas, nem sempre de forma honesta.
A fiscalização portuaria logo se rendeu ao suborno dos contrabandistas . As mercadorias chegavam ao porto e eram reconduzidas a Alfândega (atual Casa França Brasil no Rio de Janeiro) de onde partiam para os silos de armazenamento.
Aos filhos dos nobres imigrantes, uma nova realidade ... O clima tropical, a natureza bem diferente da Europa e as raças diversificadas aguçavam a curiosidade dos jovens europeus que tinham seus valores colocados em xeque.
A chegada da corte na baia do Rio de janeiro foi espetacular. Uma frota de caravelas juntou-se ao navio de D. Carlota (esposa de D. João) que já havia fundeado um mês antes. A população, surpresa, nunca tinha visto tantos barcos.
O Rio de Janeiro na chegada da corte era um simples entreposto. A vinda do rei vai estimular uma reforma na urbanização com a construção de grandes obras, como A Biblioteca Real, o Jardim Botânico, mudando o perfil da cidade.
Nas tabernas, sem presença maciça de mulheres, cafeicultores, mercadores e escravagistas conspiravam contra a corte e contra os ingleses. Se a chegada do rei trouxe progresso, também introduziu novas idéias.
Não havia piedade com negros fujões ou infratores. A pena mais comum era 100 chibatadas em praça pública, atados a uma estaca chamada de Pelourinho, a pedido dos donos. A policia local se encarregava do castigo.
Os pequenos mulatos perambulavam relativamente livres pela cidade. Não eram negros, nem eram brancos... mas podiam ser filhos de gente importante... portanto eram mais tolerados.
Com a queda de Napoleão em 1815, os franceses aceitos novamente em terras portuguesas passam a disputar a hegemonia cultural com os ingleses.
Essa reviravolta gerou um novo período de grandes desconfianças entre os locais e estrangeiros.
Oriundos das familias colonizadoras e beneficiados pela distancia da corte, a elite de latifundiários exercia e fazia a lei livremente. Com a chegada da corte havia um certo incômodo no monitoramento mais próximo de suas ações.
O Rio de Janeiro de 1808 não era o que os nobres imaginavam, um paraíso tropical com indios selvagens e puros. Era sujo, sem saneamento básico, com dois terços da população composta por negros escravos e os odores carregados.
Apesar dos não brancos serem selecionados como cidadãos de classe inferior, as raças se misturavam e se propagavam. Indios, negros e brancos deram origem aos mulatos cafusos e mamelucos. Na escala, ser portugues era importante.
Com as leis abolicionistas o negro passou a se integrar mais profundamente na vida da cidade, mesmo considerado como cidadão de segunda classe. Nas agitações era normal ve-los misturados à turba, o que antes seria impensável.
Por volta de 1920 com o crescente boato da partida da corte, as massas se agitaram. A população não queria se tornar novamente colônia. O Brasil havia sido elevado à Reino Unido mas a partida do rei implicaria em mudanças.
Ao contrário dos negros rurais que viviam em condições bem mais duras, os escravos urbanos e domésticos gozavam de uma maior liberdade do ir e vir, misturando-se pela cidade. Era comum brigas quando reunidos junto aos chafarizes de agua.
Apesar de constituirem familias normalmente dentro das senzalas, a "posse"exercida pelos senhores lhes dava o direito de interferir ou usufruir de qualquer membro da familia livremente, principalmente das mulheres.
A Rua do Mercado no centro da cidade era o epicentro do comercio local. Negociava-se frutas, verduras, animais e toda a sorte de quinquilharias. Os negros libertos montavam tendas de pano onde ofereciam serviços de barbearia.
O mercado era também uma area de passeio das damas, que se distraiam entre as ofertas de produtos. A area era bastante policiada o que não evitava que os negros de ganho escondessem parte de seu lucro dos senhores.
A policia e o exercito exerciam o papel do poder das classes dominantes. Era uma ferramenta de controle. Os senhores podiam marcar hora para que seus escravos fossem castigados em praça pública. O castigo era aplicado pelos soldados.
Fora do centro da cidade, as ruas eram bastante desertas. Calcula-se que a população inteira do Rio de Janeiro não passava de duzentas mil pessoas distribuídas poe um território imenso.
A chegada a corte estimulou outras atividades, como o surgimento do primeiro jornal do Brasil: a Gazeta do Rio de Janeiro. Era um diario da cidade distribuido no centro da cidade.
Mesmo os mais ferozes críticos da cidade, rendiam-se ao clima ameno e sem bruscas mudanças de temperatura. Trataram de encomendar a vinda de pintores europeus para registrar os trópicos. Em 1816 chegava a Missão Francesa.
A vinda da corte trouxe a base da organização do estado para o Brasil. A enorme burocracia favorecia a troca de favores, a corrupção e o acerto entre os poderes... juizes, militares e comerciantes.
A chegada a corte estimulou outras atividades, como o surgimento do primeiro jornal do Brasil: a Gazeta do Rio de Janeiro. Era um diario da cidade distribuido no centro da cidade.
A espetacular chegada das naus no porto atraiu a população para as praias. mas o desembarque foi uma decepção... nobres maltrapilhos e damas infestadas de piolhos usavam turbante para esconder a cabeça raspada.
Para a corte tudo era novo... as cores, os sons e a culinária composta de frutas frescas e variadas. Trataram de redecorar a cidade erguendo arcos e construindo fontes. O Rio de Janeiro foi se transfiormando em sede do Império.
A quantidade de escravos de cada familia dependia de suas posses. Os escravos viviam em galpões separados da casa principal chamados de senzala. Alimentavam-se de restos dos senhores, em uma mistura que mais tarde originou a feijoada.
Os senhores tratavam de supervisionar severamente os escravos. Alguns deles comiam terra para propositadamente ficar doente e não trabalhar... era o banzo.
A enseada do Rio de Janeiro era deslumbrante. São inúmeras as pinturas que ao longo do período surgiram, documentando a evolução da cidade que se expandia rapidamente. Boa parte dessas obras podem ser vistas na Biblioteca Nacional.
Por volta de 1920 com o crescente boato da partida da corte, as massas se agitaram. A população não queria se tornar novamente colônia. O Brasil havia sido elevado à Reino Unido mas a partida do rei implicaria em mudanças.
A atuação dos negros nas manifestações ainda era muito limitada. Mesmo que leis progressistas estivessem soprando a seu favor, a sociedade era no fundo muito tradicional e racista... ainda estavam sujeitos aos mesmos castigos de sempre.
As mudanças se deram em um prazo muito rápido... em 13 anos da permanência da corte o país não era o mesmo. Preto não era mais tão preto nem branco tão branco. Dois anos após o retorno da corte, o Brasil ficaria independente.
A integração racial se dava mais facilmente entre as crianças, que desprovidas de conceitos arraigados, aprendiam logo cedo a dividir as ruas com as crianças negras. Brincadeiras e esperteza não possuiam necessariamente cor.
As revoltas pelo fim da monarquia absolutista que antecederam à partida de D. João VI para Portugal, deixaram a cidade transtornada, colocando em rota de colisão o exército comandado pessoalmente por D. Pedro e os revoltosos.